Quem conhece a primeira história dessa trama deve entender o que eu estou falando. Quando vi "A Bela Adormecida" pela primeira vez, fiquei extremamente intrigado com a aparição da vilã Malévola, com seu humor irônico e ótimo poder de espantamento. Por ser uma das minhas vilãs favoritas, fiquei bastante ansioso por ver o remake dessa história, que anunciado desde 2010, já deixa claro para todo o público que seria uma versão completamente diferente da que todos estavam acostumados...
A Disney é marca principal em criar remakes! Desde as primeiras adaptações como "Peter Pan" e outros, seus diretores já estão "craques" em superar as expectativas dos telespectadores e criar uma nova história bem diferente do que todos imaginam. Com "Malévola" não foi diferente. Confesso que foi realmente difícil entender justamente, por adorar a vilã cruel e "sem coração" quando no novo longa, a Disney tem total liberdade para modificar o contexto e torná-la bem diferente do que conhecemos, uma Malévola boazinha e protetora.
Assim que o filme começa, já conhecemos uma Malévola (protagonizada pela maravilhosa Angelina Jolie) diferente da versão de 1959, uma fada que possui asas e é uma criança notavelmente feliz. Protetora do reino de Moors, ela conhece Stephan, um pobre camponês da terra de humanos. Normalmente as criaturas dos dois lados não se misturam, mas Stephan e Malévola criam um grande laço de amizade, fazendo com que ela se apaixone. Entretanto, o tempo se passou e Stephan trai Malévola quando cai nas graças do atual Rei para se eleger no trono, e aí que seu desejo de vingança nasce.
Malévola busca a vingança em si mesma e roga um feitiço na filha do rei Stephan, Aurora que em seu 16º aniversário espetaria o dedo numa agulha de fiar onde cairia num sono profundo e do jeito que vocês popularmente conhecem, só acordaria com um beijo de amor verdadeiro. Um dos pontos chaves da longa é com certeza seu roteiro: Linda Woolverton (também conhecida por "O Rei Leão" e "Alice no País das Maravilhas") não se preocupou de forma alguma em explicar o porque da moça possuir chifres e asas, se diferenciando das outras fadas de Moors, além de não citar os pais de Malévola ou Stephan, já que os dois são orfãos e é um dos motivos usados no roteiro para se aproximarem mais. A narração também tenta se resgatar nos contos de fadas com a produção do filme, mas infelizmente volta a falhar, quando possui excessivas narrações de Aurora mais velha e deixa cansativo, pois ganha várias partes contadas e se esquece das imagens, onde o próprio já conta sem precisar de explicar.
A real surpresa do roteiro está realmente na forma como o longa continua. Aurora e Malévola criam uma relação praticamente de mãe e filha, e a fada se preocupa cada vez mais com a princesa onde sabe que como uma adolescente curiosa, Aurora irá saber lidar com seus problemas mesmo não sabendo controlá-los. Com isso, Malévola começa a se tornar uma ex-heroína e mostra para o público que mesmo sendo vendida como uma vilã cruel e maligna, ela continua com seu lado bom, mas motivada pela sua terrível vingança, de modo que o conto de fadas crie um duplo sentido e no final, seria a própria Malévola que salvaria a princesa da morte, com o seu amor verdadeiro e lealdade à menina que jurava ser sua fada madrinha.
Porém, mesmo com a reviravolta incrível na história do longa, o carisma da "vilã" continua em perfeita harmonia. A poderosíssima Angelina Jolie conseguiu dar todo o charme e elegância em Malévola e mesmo com partes boas e más, ela consegue interpretar a diferença dos dois lados e continuar interligados. Elle Fanning mostrou a sutileza certa para Aurora e as três fadas interpretadas por Imelda Staunton, Lesley Manville e Juno Temple foram as responsáveis para arrancar algumas risadas da fantasia, sempre no estilo Disney de ser.
A direção de arte e efeitos especiais também não ficam para trás. Impecável e ainda mais em 3D, o longa buscou cada vez mais tirar todo o trabalho complexo aos incríveis efeitos que embelezam a aventura. A trilha sonora é destaque e foi uma menção especial para mim, pois utilizou a música clássica de "A Bela Adormecida" mas caracterizou perfeitamente com o novo roteiro. Entretanto para mim, o que mais demonstrou em Malévola foi a fotografia, que abusou dos zoons e slow-motion, mas de não maneira inovadora. O diretor conseguiu trazer como um filme de ação toda a sequência de imagens e lutas coordenadas, mas não mudou muito na parte essencial, que seria o slow-motion agora "clássico" em filmes de aventura.
Malévola consegue se inserir muito bem nos filmes agora caracterizados na junção entre bem e mal, como "Frozen" e "Detona Ralph" quando durante sua história, os personagens conseguem agradar e dar raiva ao público ao mesmo tempo, concluindo-se que a Disney irá apostar de mãos e pés em vilões como principais, mesmo tendo que torná-los bonzinhos para isso.